Amiúde

Crio este blog com duas certezas: a vontade de escrevê-lo vai passar e em algum momento, ainda que longínquo, vai voltar. Não espere encontrar mais do que textos desinteressantes de um jornalista desinteressado. A ver.

Tuesday, September 04, 2007

Dicas ao estudante de jornalismo

O experiente Mino Carta gosta de repetir que o Brasil tem o “pior jornalismo do mundo”. Sua crítica é centrada na atuação dos que comandam grandes redações, sejam jornalistas ou empresários. Exageros à parte, as observações são justificadas. Mas essa não é a única explicação para o trabalho de qualidade duvidosa que chega às bancas, às telas e à rede. A incompetência ou indecência dos de cima não livra de responsabilidade os de baixo.

A crise na educação sempre causa uma crise de produção de mão-de-obra qualificada mais à frente. Eis o que ocorre com o jornalismo nacional. O modelo de ensino faliu e os novos profissionais são cada vez menos preparados.

A faculdade é fundamental para despertar o espírito crítico aplicado ao jornalismo e dar base teórica e intelectual aos futuros repórteres e editores. Do jeito que o curso de jornalismo foi concebido, contudo, o aprendizado e consolidação da prática do jornalismo só se dão no mercado.

E Quantas empresas de comunicação investem na preparação de um jovem desde o estágio até um alto cargo? Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Abril e Globo têm planos de carreira que se apóiam em cursos internos, é verdade, mas absorvem uma ínfima parte da massa que completa a faculdade. E o resto?

A maioria dos recém-formados chega ao mercado, pois, sem intimidade nem domínio do seu trabalho. Já não é, todavia, tempo de aprender. As companhias querem resultados. Esse é o momento em que o jornalista descobre que é um autodidata – e que sozinho terá de aprender muito e em pouco tempo para se dar bem na profissão. Missão difícil quando as vagas são restritas e de baixo salário.

O melhor para os estudantes, então, é caprichar na busca de um bom estágio, afim de aprender enquanto é tempo de aprender. Cursos, como os do comunique-se, são bem-vindos. Ninguém vai ser ensinado na faculdade a prática do jornalismo corporativo ou da assessoria de imprensa, por exemplo. Se há interesse nessa área, é recomendável ao menos passar por ela antes de se formar. Caso contrário, o candidato, numa entrevista, não terá condições sequer de reagir a palavras como “cases”, “briefing” e “follow up”.

A consultoria Korum, após pesquisa com 3 mil empresas, chegou à conclusão de que antes dos 35 anos é válido não se fixar por longos períodos nas companhias, a não ser que o plano de carreira oferecido seja proveitoso. O diretor da Kórum entende que passar por vários ambientes torna o profissional mais completo, algo valorizado na nova realidade de mercado. No jornalismo, a importância de transitar por diversas áreas se potencializa.

Ainda que dentro de uma categoria específica, as habilidades requeridas são distintas. O repórter de internet, por exemplo, pouca experiência tem em construir linha fina, olho e título com espaço pré-determinado, como quem trabalha em jornal. Pouco precisa se importar com o furo do concorrente, porque pode lê-lo na rede e em um instante recuperá-lo, ao contrário do profissional dos diários. Já o repórter de revista é obrigado a desenvolver textos elaborados e apurações mais profundas, mas se apavora diante do fetiche do tempo real do jornalismo eletrônico.

Todas essas diferenças estão dentro de um mesmo campo: o jornalismo escrito. Seria mais dramático pensar na transição para a televisão ou o rádio sem um bom estágio. As dificuldades que surgem são contornáveis, mas novamente só para uma pequena parcela dos novos profissionais. Os outros, a maioria, ficam acorrentados à mediocridade. Assim como o jornalismo nacional.