Toronto ficou no retrovisor e sumiu. Hora, pois, de reportar a mim mesmo, autor e leitor solitário deste blog, o que de curioso aconteceu. Minha memória não é das melhores, mas capaz de relembrar algumas passagens interessantes.
Segue a premiação do Toronto Awards:
Categoria transporte público:O multiculturalismo ululante da maior cidade canadense torna corridas de ônibus e táxis um encontro com todo tipo de personagem. Aqui vão alguns deles:
Latino: Esse tinha mullets vistosos, cara do cantor de La Bamba, mochila nas costas e um fone de ouvido gigantesco. Encostado na porta do ônibus, balançava a cabeça de cima a baixo e cantava com fervor a música de seu Ipod. No refrão, balançava os ombros e soltava um sonoro “tcha tcha tcha”.
Coreano: Como em São Paulo, o metrô tem portas dos dois lados a fim de se adequar às diferentes estações. Este cidadão encostou-se à porta que não se abriria naquele trecho da linha verde e deu as costas ao resto do trem. Sem mostrar a face, ensaiou passos entusiasmados de street dance. O artista de rua mais tímido da história.
Japonês: Ele era “verticalmente prejudicado”, mas tentava tirar proveito disso. Subia no banco do Metrô, segurava na barra geralmente usada pelos passageiros para ganhar equilíbrio e erguia seu próprio corpo com as forças do braço. Depois do exercício, sentava, fechava os olhos e dava lentos e caprichados socos no ar, sempre em diagonal e alternando os braços.
Motorista 1: O meu favorito. Ônibus cheio, ele pega o microfone com o qual geralmente anuncia o nome de cada parada e dispara: “Senhoras e senhores, o almoço será servido dentro de instantes. Em minutos nossa equipe iniciará o serviço de bordo”.
Motorista 2: O mais alegre dos drivers de Toronto. Numa canção improvisada, entoava em voz alta algo como “the passengers go up and down, they walk around”.
Categoria bom gosto:O troféu vai para os marqueteiros locais. No Metrô, havia a campanha “informe-se sobre locais de trabalho seguros e ganhe um Ipod”. A ilustração era um trabalhador de capacete com uma barra de ferro atravessada na cabeça. A outra versão, para reforçar a promoção do Ipod, tinha apenas uma orelha com um fone caída no chão e uma poça de sangue. Agradabilíssimo olhar para isso toda manhã!
Troféu non-sense:O título é do “swiss-german”, língua que é uma variação do alemão e que se fala na Suíça. A tradução de “fuck you” é “fick clich inz knie”, o que no literal significa “fuck you no joelho”.
Categoria crise existencial:Segunda taça do Swiss-german, que juram os suíços ser uma língua fantasma. Ela não tem gramática e portanto desde pequenos os nossos amigos de Berne, Basiléia etc são proibidos de escrever como falam. Conversam em swiss-german, escrevem em alemão.
Honra ao mérito, Magda!Aconteceu durante um jogo chamado “Taboo”. A classe havia sido dividida em dois times. Todos sabiam qual palavra fora escrita na lousa, à exceção de um participante, que tentaria adivinha-la. Os demais do time ficavam encarregados de dar dicas, mas evitando determinadas palavras-chave. Pois bem, a palavra em questão era “allegation”. O grupo quis guiá-lo à sílaba “alle”. Para tanto, sugeriram “another word for crocodile”. Ao invés da resposta correta e mais óbvia, “alligator”, nosso amigo sul-coreano disparou “Lacoste”.
Troféu harmonia gastronômica:Vai para uma família canadense que abriga estudantes. No café da manhã, ovo mexido, morangos, sushi e camarão!
Menção honrosa: Pizza de Nova York comida de ponta a ponta pela Natita. Abstenho-me de relembrar todos os ingredientes, basta dizer que no meio daquele recheio todo havia macarrão.
Momento agressão gratuita:Com toda a excursão parada para ouvir explicações na Wall Street, o guia pergunta se há algum alemão presente. Um solitário levanta a mão e ouve que ali do lado o prédio mais alto da avenida havia sido comprado pelo Deustch Bank. Em seguida, o guia indaga se há brasileiros presentes. “Uuhuuu”, responde a turba verde-amarela com muito barulho. “Ok, não tem nada para vocês aqui, vamos seguir em frente”. Então ta, né?
Categoria precaução:No boat cruise por Thousand Islands havia uma senhora usando capacete de ciclista durante todo o trajeto. Talvez fosse útil, já que pássaros seguiram o barco e o sobrevoaram durante parte do trajeto.
Categoria “hein?”:Já cansei de ver placas de “não pise na grama”; em Toronto Island, contudo, a inscrição dizia “Please, walk on the grass”.
Troféu “tapinha não dói”:Foi numa das festas só para estudantes. Um colega ouviu o pedido de uma venezuelana durante uma dirty dance: “hit me”. Pedido atendido!