Amiúde

Crio este blog com duas certezas: a vontade de escrevê-lo vai passar e em algum momento, ainda que longínquo, vai voltar. Não espere encontrar mais do que textos desinteressantes de um jornalista desinteressado. A ver.

Thursday, July 12, 2007

Homenagem aos bons

Este blog, que começou com crônicas, ganhou reportagens e posteriormente aderiu a relatos despretensiosos, agora apela ao copy & paste. Trata-se de uma brilhante definição do jornalista por Ulysses Guimarães. Posto-a aqui em homenagem aos bons repórteres, que nos são modelo e inspiração.

"Poesia é encontrar uma árvore esquecida à beira da estrada e glorificá-la."

O jornalista de raça é um mágico. Transfigura o anônimo em notável, celebra o despercebido, enquadra o texto no contexto. Enquanto nós nos limitamos a olhar, ele vê as coisas, pessoas, a paisagem. Vê e conta."

Thursday, July 05, 2007

Toronto Awards

Toronto ficou no retrovisor e sumiu. Hora, pois, de reportar a mim mesmo, autor e leitor solitário deste blog, o que de curioso aconteceu. Minha memória não é das melhores, mas capaz de relembrar algumas passagens interessantes.

Segue a premiação do Toronto Awards:

Categoria transporte público:

O multiculturalismo ululante da maior cidade canadense torna corridas de ônibus e táxis um encontro com todo tipo de personagem. Aqui vão alguns deles:

Latino: Esse tinha mullets vistosos, cara do cantor de La Bamba, mochila nas costas e um fone de ouvido gigantesco. Encostado na porta do ônibus, balançava a cabeça de cima a baixo e cantava com fervor a música de seu Ipod. No refrão, balançava os ombros e soltava um sonoro “tcha tcha tcha”.

Coreano: Como em São Paulo, o metrô tem portas dos dois lados a fim de se adequar às diferentes estações. Este cidadão encostou-se à porta que não se abriria naquele trecho da linha verde e deu as costas ao resto do trem. Sem mostrar a face, ensaiou passos entusiasmados de street dance. O artista de rua mais tímido da história.

Japonês: Ele era “verticalmente prejudicado”, mas tentava tirar proveito disso. Subia no banco do Metrô, segurava na barra geralmente usada pelos passageiros para ganhar equilíbrio e erguia seu próprio corpo com as forças do braço. Depois do exercício, sentava, fechava os olhos e dava lentos e caprichados socos no ar, sempre em diagonal e alternando os braços.

Motorista 1: O meu favorito. Ônibus cheio, ele pega o microfone com o qual geralmente anuncia o nome de cada parada e dispara: “Senhoras e senhores, o almoço será servido dentro de instantes. Em minutos nossa equipe iniciará o serviço de bordo”.

Motorista 2: O mais alegre dos drivers de Toronto. Numa canção improvisada, entoava em voz alta algo como “the passengers go up and down, they walk around”.

Categoria bom gosto:

O troféu vai para os marqueteiros locais. No Metrô, havia a campanha “informe-se sobre locais de trabalho seguros e ganhe um Ipod”. A ilustração era um trabalhador de capacete com uma barra de ferro atravessada na cabeça. A outra versão, para reforçar a promoção do Ipod, tinha apenas uma orelha com um fone caída no chão e uma poça de sangue. Agradabilíssimo olhar para isso toda manhã!

Troféu non-sense:

O título é do “swiss-german”, língua que é uma variação do alemão e que se fala na Suíça. A tradução de “fuck you” é “fick clich inz knie”, o que no literal significa “fuck you no joelho”.

Categoria crise existencial:

Segunda taça do Swiss-german, que juram os suíços ser uma língua fantasma. Ela não tem gramática e portanto desde pequenos os nossos amigos de Berne, Basiléia etc são proibidos de escrever como falam. Conversam em swiss-german, escrevem em alemão.

Honra ao mérito, Magda!

Aconteceu durante um jogo chamado “Taboo”. A classe havia sido dividida em dois times. Todos sabiam qual palavra fora escrita na lousa, à exceção de um participante, que tentaria adivinha-la. Os demais do time ficavam encarregados de dar dicas, mas evitando determinadas palavras-chave. Pois bem, a palavra em questão era “allegation”. O grupo quis guiá-lo à sílaba “alle”. Para tanto, sugeriram “another word for crocodile”. Ao invés da resposta correta e mais óbvia, “alligator”, nosso amigo sul-coreano disparou “Lacoste”.

Troféu harmonia gastronômica:

Vai para uma família canadense que abriga estudantes. No café da manhã, ovo mexido, morangos, sushi e camarão!

Menção honrosa: Pizza de Nova York comida de ponta a ponta pela Natita. Abstenho-me de relembrar todos os ingredientes, basta dizer que no meio daquele recheio todo havia macarrão.

Momento agressão gratuita:

Com toda a excursão parada para ouvir explicações na Wall Street, o guia pergunta se há algum alemão presente. Um solitário levanta a mão e ouve que ali do lado o prédio mais alto da avenida havia sido comprado pelo Deustch Bank. Em seguida, o guia indaga se há brasileiros presentes. “Uuhuuu”, responde a turba verde-amarela com muito barulho. “Ok, não tem nada para vocês aqui, vamos seguir em frente”. Então ta, né?

Categoria precaução:

No boat cruise por Thousand Islands havia uma senhora usando capacete de ciclista durante todo o trajeto. Talvez fosse útil, já que pássaros seguiram o barco e o sobrevoaram durante parte do trajeto.

Categoria “hein?”:

Já cansei de ver placas de “não pise na grama”; em Toronto Island, contudo, a inscrição dizia “Please, walk on the grass”.

Troféu “tapinha não dói”:

Foi numa das festas só para estudantes. Um colega ouviu o pedido de uma venezuelana durante uma dirty dance: “hit me”. Pedido atendido!