Amiúde

Crio este blog com duas certezas: a vontade de escrevê-lo vai passar e em algum momento, ainda que longínquo, vai voltar. Não espere encontrar mais do que textos desinteressantes de um jornalista desinteressado. A ver.

Saturday, June 09, 2007

Forza, Azzura!


Quando a saudade aperta, qualquer coisa é valida para nos sentirmos mais perto de casa. Isso inclui se aproximar dos brasileiros, ir ao bar brasileiro com os brasileiros e fazer brasileiradas com quem quer que seja. Foi assim que algumas pessoas entraram na minha vida.

O Davi, 20 e poucos anos, é um cruzeirense de BH. Admirável o esforco desse rapaz, que passa o dia de lá pra cá colando flyer em poste para viabilizar a propria viagem. Não concordo, entretanto, com o expediente sordido de que se utiliza para todo mes ganhar o premio de melhor aluno do Business Course. Mas o Davi adora, adora, a Dora!

A bem da verdade, dane-se o esforco dele. O que interessa é que nos faz dar risada com frequencia. Aliás, o cidadão tem potencial de frasista. "Ficar bebado é muito bom. Eu ficaria todo dia", filosou certa vez o nosso Nelson Rodrigues das Gerais.

Mas não é so.

- Esse cara é um 'pelinha', disparou, sobre um chato.

- Um o que?

- Pelinha. Sabe aquelas pelinhas chatas que ficam no canto do dedo?

- Ah, então tá.

Já o Lucas, de Piracicaba, é um maniaco consumista. Depois de gastar os tubos em Nova York, necrosou os dedos tentando carregar as sacolas e mais sacolas de roupa nova no Metro. Não vamos contar que ele perdeu o onibus de ida para a Big Apple (pôde embarcar num outro por pura sorte) e que so não fez o mesmo na volta porque ja com o veiculo em movimento conseguimos avisa-lo pelo celular da sitaucao.

Ao contrário do esguio Davi, o Lucas é... ham... "corpulento". E curiosamente gosta mais de queijo do que o mineirinho. Mas o que o agrada mesmo é brincar de "poor translations". As sentencas "see me the bill" e "tea with me, I book your face" são classicas e antecedem nossa vinda ao Canada. O mesmo não se aplica, por exemplo, a expressao "very pasta" (traducao perfeita de "muito massa", que so o piracicabano usa). Destaque tambem para a menos educada "don't make sweety ass" e a esperada "Miss Quotation", adaptacão do nome da professora grega chamada Aspa.

O camisa 4 do time é um figura de Goiania. Fisioterapeuta, mas poderia ser seguranca de balada. Ainda assim insiste que as pessoas o chamem de... "Saulinho"??? De qualquer maneira, mostrou no Wonderland Park que armarios tambem podem naturalmente ser pueris. A insistencia e excitacão do rapaz falando da torre "Drop Zone" so se comparam ao comportamento do Lucas quando descobriu que o refrigerante do Korean Barbecue tinha refil livre e gratuito.

Ao contrario de mim, motivo de chacota pelo cardapio pobre da homestay, o Saulo levava para a escola sanduiches sensacionais. Mas pagava o preco. Todos "Lainavamos" seu almoco. Sim, o verbo - criado por algum bebado - refere-se a simpática, loirissima e fominha Elaine, outra compatriota. Reza a lenda que no dia em que ela recusar o lanche de alguém, o Apocalipse virá. E ai Lainaremos, todos juntos, o Doritos de Deus ou do Demo.

Nem mesmo meu sensacional pão com queijo e azeitona, que mereceu foto de várias cameras digitais, foi perdoado pela nossa rubia.

MISTERIO

Tudo nesse mundo tem um significado. Mas as vezes falhamos em decifrar o recado enviado por eventos do dia a dia. Davizao que o diga.

Depois de dois meses, o rapaz com cara de guia de ecoturismo da Serra do Cipo deixou a homestay e alugou um all brazilian apartament com o Saulo. Na despedida do antigo lar, recebeu um presente da entao anfitriã para equipar a nova casa.

Ate posso imaginar a cena da mocinha dizendo "Wait, I have a gift. Good luck and be happy!" e entregando um rolo de papel higienico a ele. Isso, papel higienico. Gentis esses canadenses, né?

O BOLA

Nao, "O Bola" nao sou eu. Eh o bar brasileiro que tinha musica ao vivo e feijoada de graca antes de ser fechado por dar o calote no aluguel. E foi la, por um acaso, que alguns viram despertar a paixão pela... Azurra?

Naquela noite o DJ abusou do trash antes de a banda entrar. O classico "De bar em bar, de mesa em mesa, tomando cachaca, tomando cerveja" ja tinha ganhado bis. Quanta poesia! Veio então o axé e mudou o humor da festa. Mas o fator decisivo foi mesmo um italiano, que apareceu no fundo do bar - onde estavamos - com quatro jarras de cerveja na mao. Completamente embriagado, derrubava a - argh - Blue Canadian para todos os lados.

Aquela cena mexeu com os principios do nosso amigo goiano, para quem o desperdicio de cerveja deveria ser punido com prisao perpetua e tortura, no minimo.

- Seu maldito, nao faz isso!, disse, aproximando-se do borracho e ajudando-o a colocar as pitchers sobre a mesa.

O Roberto Baggio, sem entender nada, agradeceu a ajuda. O Saulo, então, aproveitou e se serviu. O Lucas, que não é bobo, fez o mesmo. O Davi perdeu os pudores e serviu a todos nos. Como o dono da cerveja continuava dancando Chiclete com Banana (Oba, Oba!), nossos volantes levaram a bebida da defesa para perto do palco e la secaram as quatro jarras.

Nao se sabe como, mas uma pitcher vazia apareceu no nosso vagão do metro na volta para casa. Em agradecimento ao italiano e ao destino, teve gente usando a jarra para simular o gesto de Canavarro ha quase um ano, quando levantou a taca na Copa da Alemanha. Forza Azzuura!

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