Reflexoes sobre o Nosso Heroi
Sao Paulo e Toronto sao definitivamente muito diferentes. A primeira é uma megalopole com mais de 20 milhoes de habitantes, encontro do primeiro com o terceiro mundo. A segunda nao tem mais do que 3 milhoes de moradores e acaba de ser eleita uma das 15 melhores cidades do planeta para se viver.
Uma semelhanca, contudo, salta aos olhos. Ambas orgulham-se do multicuturalismo que raramente desemboca em intolerancia. A capital paulista, além de receber gente de todas as partes do pais, abriga grandes comunidades japonesas, chinesas, italianas etc. Na maior cidade do Canada, uma corrida de onibus é o suficiente para encontrar pessoas nascidas na India, Eritreia, Tailandia, Coreia do Sul, Grecia, Polonia.
Como pragas, espalham-se pela cidade os estudantes estrangeiros, avidos por aprender definitivamente o ingles. Ninguem parece saber ao certo a razao, mas grande parte deles é formada por suicos. No pequeno pais dos chocolates, fondues e Roger Federer, alias, estao as recem-eleitas campea e vice no ranking das cidades com melhor qualidade de vida. A saber, Zurique e Genebra.
Toda essa introducao chata para a seguir desfazer alguns mitos. A convivencia com gente de toda a parte do mundo nos faz repensar o que se entende por brasileiro médio. A auto-estima desse nosso personagem sabidamente é instavel e facilmente influenciavel. Num dia o pais tem o melhor futebol do mundo, musica contagiante, pessoas exrovertidas e outros chavoes; no outro o povo é ignorante, incompetente, lei de gerson e bla-bla-bla.
SUMIRAM COM FIDEL
Levante a mao quem nunca ouviu que o estudante brasileiro é indisciplinado, ao contrario dos asiaticos, em especial japoneses e coreanos. Pois bem: longe de casa, num outro mundo, sem as mesmas pressoes sociais, as pessoas acabam descobrindo muito sobre si mesmas e sendo mais honestas com suas proprias vontades. Nao posso garantir sobre o que acontece na Asia e na Europa, mas aqui a preguica, a irresponsabilidade e falta de comprometimento nao sao privilegio de nenhuma nacionalidade.
Sim, os coreanos, suicos, alemaes, todos festejam durante a semana, bebem mais do que podem e por isso perdem aulas, provas e atividades pre-programadas. E, se fazem isso em proporcao diferente de brasileiros, colombianos e mexicanos, a disparidade é tao pequena que acaba sendo imperceptivel. Ah, e os campeoes no quesito fura-fila, ao menos no meu circulo social, sao os espanhois. "Jeitinho espanhol"?
Mas, enfim ao que deveria ser o lide.
Levante a mao - de novo! - quem nunca participou de uma aula de ingles na qual o professor divide a classe em grupos e propoe uma especie de competicao baseada na gramatica estudada naquele dia. Na segunda semana de curso, aconteceu numa dessas atividades ordinarias um episodio que me deixou atonito.
Naquela manha a neve caia forte e a temperatura nao passava dos -10. Isso - so pode ser - deve ter congelado cerebros na Bloor Street. Enquanto o freezer seguia ligado la fora, dentro da classe a ordem era preparar preparar frases que descrevessem uma pessoa, lugar ou evento. Os outros grupos tentariam adivinhar de quem ou o do que se tratava.
Como eu nao aguentava mais falar sobre carnaval e futebol, decidi logo fazer uma frase sem envolver o Brasil. Tentei pensar em alguma personalidade polemica, que tivesse estado nos jornais e livros de historia por muito tempo, de maneira que fosse conhecido por gente de todas as culturas.
"Let's start with the brazilian, they are always easygoing. Read a sentence Otavio", pediu a professora. Foi entao que li algo mais ou menos assim: "This man, who has been in charge in Cuba since 1959,...". Foge-me a continuacao, mas todos sabem - ou deveriam saber sem hesitar - que se trata de Fidel Castro.
Esperei a resposta, mas as pessoas ficaram em silencio. Achei que era so timidez, falta de vontade de participar. Mudei de ideia quando vi as expressoes de "nao faco a menor ideia". A professora se desesperou e deu algumas dicas. "Uniforme militar, barba comprida." E nada. Ela mesma se encarregou de dar a resposta. "The commie, Fidel Castro". Dois ou tres reagiram com um "Who?". Mas o que chamou mais a atencao foi o tipico "oooooooooooooohhh", frequente quando japoneses e coreanos ficam surpresos.
Eram 12 pessoas na classe, entre eles alguns universitarios e bachareis. Todos, em seus respectivos paises, receberam uma educacao basica de dar inveja ao nosso heroi, o Brasileiro-Médio. Nao sei qual é precisamente a resposta para essa falta de informacao. Talvez tenham se voltado mais para a propria historia e insuficientemente para o que acontece em outras partes do mundo.
Em seguida tive de dizer a data precisa da explosao da bomba de Nagasaki.
- Sorry...
E mais uma vez:
- Oooooooooooh!!!!!!
Pelo menos essa a professora tambem nao sabia.
2 Comments:
É isso aí TATA, mostra para os gringos quem manda!!!!
Aqui na Espanha, eles sao bem furoes de fila mesmo, estou de acordo. E esse negocio de preguica e festas é a mais pura verdade.
Belo texto. Continue!!
Cara, esses "ohhhhhh" são muito bons!
Mas nem a Hermi sabia as respostas????
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